Memória

 

Definição de memória:

A memória pode ser entendida como o registo de todas as experiências existentes na consciência, bem como a qualidade, extensão e precisão dessas lembranças. A memória é a capacidade do cérebro em armazenar, reter e recordar a informação. Representa, então, duas funções fundamentais: a capacidade de fixar, o que permite o acréscimo de novas informações, e a capacidade de reproduzir, através da qual os conhecimentos são revividos e colocados à disposição da consciência.

A nossa capacidade de memorizar depende da rede de informação que possuímos, por isso, é habitual que quem tem mais habilitações, tenha maior capacidade de memorização.

Para que uma memória seja eficaz, é preciso compreender o teor da informação, dependendo esta da motivação e do interesse que a questão suscita em cada um. Quanto maior a compreensão do conteúdo e a intensidade da ligação entre ele e os nossos restantes conhecimentos, maior a durabilidade da memória.

 

A importância da memória no comportamento:

A memória é um fenómeno biológico e psicológico, dependente da interação entre vários sistemas cerebrais como o lobo temporal, a amígdala e o córtex pré-frontal.

A memória está na base de todas as funções psíquicas: da perceção, da aprendizagem, da imaginação, do raciocínio, etc.

Não podemos conceber a vida humana sem memória. É a partir das informações que o indivíduo possui que se adapta ao meio e atribui significado às experiências vividas. Sem ela, seria impossível a transmissão e desenvolvimento cultural. O homem seria um ser puramente biológico.

É a memória que nos dá o sentimento de identidade pessoal: as experiências vividas, acumuladas e que nos reconhecemos como nossas constituem o nosso património pessoal que nos distingue dos outros e nos torna únicos. Sem memória não existe identidade.

A memória humana é limitada na sua capacidade de armazenamento e afectada pelos sentimentos, emoções, experiências, imaginação e, ainda, pelo tempo.

 

Os processos de memória:

Se a memória é a capacidade do cérebro em armazenar, reter e recordar a informação, então são estes os três processos base de memória.

A codificação é a primeira operação da memória. Prepara as informações sensoriais para serem armazenadas no cérebro. Traduz os dados recebidos em códigos visuais, acústicos ou semânticos. Quando queremos memorizar algo, agimos em função de uma aprendizagem deliberada que nos exige mais atenção e, como tal, uma codificação mais profunda.

Depois de codificada, a informação deve ser armazenada, o que acontece por um período variável. Cada elemento de uma memória é guardado em várias áreas cerebrais. Engramas são traços mnésicos resultantes das modificações no cérebro que ocorrem para o armazenamento. Cada engrama produz modificações nas redes neuronais que permitem a recordação do que se memorizou sempre que necessário. O processo de fixação é complexo e a informação que se armazena está sempre sujeito a modificações, o que implica que, para que ela se mantenha estável e permanente, seja necessário tempo.

A recuperação é, como o nome indica, a fase em que recuperamos, recordamos, reproduzimos a informação anteriormente guardada.

 

A memória de curto prazo:

A memória a curto prazo está presente no hipocampo. É uma memória que retém a informação durante um tempo curto limitado, a partir do qual pode ser esquecida ou promovida para a memória a longo prazo. Distinguem-se a memória imediata e a memória de trabalho:

A memória imediata é aquela que retém a informação apenas por uma fração de tempo (aproximadamente, 30segundos). Normalmente, conseguimos reter até sete unidades de informação: sete dígitos, sete letras.

A memória de trabalho acontece quando mantemos a informação enquanto ela nos é útil, por exemplo quando repetimos um nome ou um número várias vezes porque não o pudemos escrever.

Ambas se completam e formam a memória a curto prazo. Qualquer informação que tenha estado na memória a curto prazo e que se tenha perdido é irrecuperável.

 

Os diferentes tipos de memória de longo prazo:

Há dois tipos de memória de longo prazo: a memória não declarativa e a declarativa.

A memória não declarativa é automática, retém as informações do género “como fazer?”. É o exercício, a repetição do conjunto de práticas que tornam a actividade automática. Só conseguimos atingir este tipo de memória através da acção. Explicar como andar de bicicleta é muito complicado, a tendência é sempre exemplificar. Para isso, não é preciso localização temporal, reflexão ou reconhecimento a não ser que nos seja perguntada alguma referência. Memória não declarativa é também chamada memória implícita ou sem registo.

A memória declarativa, explícita ou com registo, implica consciência do passado, do tempo, de experiências vividas, de acontecimentos e pessoas. Esta memória lida com conteúdos que podem ser declarados, ou seja, transpostos para palavras. Dentro desta memória, podemos ainda separar a memória episódica da semântica.

A memória episódica é constantemente associada a memória autobiográfica exactamente porque se reporta a lembranças da vida pessoal. Envolve rostos de pessoas, músicas, factos, experiências. É pessoal e manifesta uma relação íntima entre quem recorda e o que se recorda.

A memória semântica permite identificar objetos e conhecer o significado das palavras. Refere-se ao conhecimento geral sobre o mundo: leis, factos, fórmulas, regras. Não há localização no tempo, não há ligação com qualquer ação ou conhecimento específico. Sabe – se que  3² = 9 e esse conhecimento é retido assim, simplesmente. Se se associar quem ensinou, por exemplo, o professor de matemática, já nos estarmos a reportar à memória episódica.

 

A memória como processo activo e dinâmico:

A memória é um processo ativo e dinâmico na medida em que não reproduz fielmente aquilo que armazenou. A memória reconstrói os dados, o que implica que dê mais relevo a uns, distorça outros ou mesmo os omita. Por outro lado, quando os acontecimentos são muito emotivos, a memória deixa escapar pormenores que depois são substituídos/reconstruídos pelo cérebro. Quem conta um conto, acrescenta um ponto e, assim, quanto mais se reproduz o que aconteceu, mais elaborada e complexa vai ficando a história, chegando a um ponto em que muitos factos não passam de imaginação.

No entanto, as representações que temos são sempre tão claras como se fossem plenas reproduções da realidade, o que faz com que este processo ativo e dinâmico nos passe completamente despercebido. Por este motivo, o mesmo acontecimento pode ser descrito de formas bastante diferentes por diferentes pessoas. Não mentem, apenas têm diferentes interpretações resultantes de diferentes sentimentos, emoções e atenção.

 

Relacionamento entre memória e esquecimento:

A memória é seletiva e limitada na sua capacidade de armazenamento. Por isso, o esquecimento é condição essencial ao normal funcionamento da memória.

Podemos definir esquecimento como a incapacidade de recordar, de recuperar dados, informações, experiências que foram memorizadas no passado. O esquecimento pode ser provisório ou definitivo. Apesar de estar carregado de uma imagem negativa, o esquecimento é essencial. Só continuamos, ao longo de toda a vida, a memorizar informação porque conseguimos esquecer outra. O esquecimento tem uma função seletiva e adaptativa, já que despreza a informação inútil e desnecessária e os conteúdos conflituosos, impedindo um excesso de informação acumulado no cérebro que bloquearia a captação de novos assuntos.

O esquecimento está, normalmente, mais relacionado com a memória a longo prazo uma vez que, na memória a curto prazo, o tempo de retenção da informação é demasiado curto: esta ou passa para a memória a longo prazo ou é apagada.

 

Os diferentes tipos de esquecimento: motivado, interferência das aprendizagens e regressivo:

O esquecimento regressivo acontece quando há dificuldades em apreender novas informações e relembrar conhecimentos, factos, nomes e números recentes. É frequente ocorrer, maioritariamente, em pessoas mais idosas devido à degenerescência dos tecidos cerebrais. Apesar disso, o envelhecimento pode ser retardado com uma vida ativa, empenhada e equilibrada.

O esquecimento motivado aparece na sequência da teoria do psiquismo humano de Freud. Assim, esquecemos o que, inconscientemente, nos convém esquecer. De forma a assegurar o equilíbrio psicológico, o cérebro tende a esquecer todos os conteúdos que possam ser traumatizantes, dolorosos angustiantes, fenómeno a que chamamos recalcamento. Através deste mecanismo de defesa, os conteúdos do inconsciente são impedidos de atingir a consciência, diminuindo a incidência de momentos tensos provocados por conflitos internos.

O esquecimento por interferência das aprendizagens explica-se pela interacção das novas memórias com as mais antigas. As memórias mais antigas não desaparecem, mas sofrem alterações por efeito da transferência de aprendizagens e experiências posteriores que as tornam irreconhecíveis.